Rapunzel

Há muito tempo, em uma humilde casa com um pequeno quintal, viviam um homem e uma mulher. No fundo do pátio havia um muro alto e atrás dele, um vasto, jardim misterioso. O casal não fazia ideia de a quem pertencia. Mesmo que muitas vezes espiassem por cima do muro, eles nunca viram uma viva alma lá.

Um dia a esposa disse ao marido: “espreitei por uma fresta na parede e vi uma alface deliciosa. É a única coisa que eu quero comer!” E com isso dito, ela não comeu mais nada e ficou pálida e fraca de fome. Seu marido não teve escolha.

Sob o manto da escuridão, ele rastejou pelo jardim, quieto como um rato, indo direto para alcançar uma bela folha de alface. Estava apenas estendendo a mão, quando de repente, alguém o agarrou! O homem, petrificado, virou a cabeça. Ali, bem na frente dele, estava uma bruxa vestida de preto.

“Quem está roubando meu jardim?!”, ela falou com uma voz áspera.

Ele tentou se explicar. “Minha esposa, ela está murchando na minha frente... Só esta alface pode ajudá-la a recuperar as forças.”

“Muito bem”, disse a bruxa, “pegue o quanto quiser. Mas eu quero algo em troca. Eu vou te dar minha alface e você vai me dar sua criança.”

O homem não se assustou com o estranho pedido – afinal, ele não tinha filhos para dar. Ele aceitou descuidadamente e voltou correndo para casa para ficar o mais longe possível daquela mulher.

Assim que voltou, deu à esposa a alface recém-colhida. Isso a fez se sentir muito melhor, de fato. Mas o homem logo soube de uma notícia terrível. Sua esposa estava grávida. Só então ele percebeu que negócio terrível havia feito. E não podia fazer nada para voltar atrás.

Com o tempo, a mulher deu à luz uma linda menina de cabelos dourados. Antes que os pais soubessem o que estava acontecendo, a bruxa das trevas apareceu em sua porta. Ela não ouviu seus gritos ou suas súplicas. Apenas agarrou a criança e a levou para longe deles.

A menina cresceu rápido como erva daninha, e a bruxa a estava criando como se fosse sua. Ela a chamou de Rapunzel. A garota tinha uma maravilhosa juba de cabelos dourados, que ela geralmente arrumava em uma longa trança. Também tinha a voz de um anjo, e qualquer um que a ouvisse gostava dela. A bruxa estava preocupada que alguém pudesse roubar tal beleza.

Assim que Rapunzel completou dezoito anos, a bruxa a trancou em uma torre alta sem portas ou escadas. Havia apenas uma pequena câmara dentro, com apenas uma janela. Toda vez que a bruxa vinha visitar a pobre menina, ela chamava:

“Rapunzel, minha linda donzela,

Rapunzel, jogue seus cabelos!”

Quando Rapunzel ouvia essas palavras, abria a janela e jogava sua longa trança dourada. A bruxa segurava-a com força e Rapunzel a erguia até o topo da torre.

Um dia, um jovem príncipe passeava pelos bosques nos arredores. De repente, ele ouviu uma bela música. Ele seguiu o som, curioso para ver quem tinha uma voz tão mágica.

Ele se esforçou através do matagal denso, até que viu uma torre alta e na janela bem no topo uma linda garota de cabelos dourados, cantando uma canção triste. Por mais que o príncipe tentasse, ele não conseguia encontrar uma entrada. No final, ele decidiu se esconder nos arbustos e esperar.

Em pouco tempo, a bruxa chegou à torre. Mal sabia ela que havia alguém a observando. Ela chamou Rapunzel como de costume.

O esperto príncipe esperou até que a bruxa fosse embora. Então ele ficou ao pé da torre e gritou:

“Rapunzel, minha linda donzela,

Rapunzel, jogue seus cabelos!”

Rapunzel obedientemente jogou sua trança para fora. Imagine a surpresa dela! Quando a puxou de volta, ela encontrou um jovem príncipe em vez da bruxa! A princípio, ela teve medo do jovem estranho, mas o príncipe explicou que apenas seguira sua bela voz. Isso a tranquilizou e logo se tornaram bons amigos.

A partir desse dia, o príncipe passou a visitá-la todas as noites e a cada vez trazia para ela um novelo de seda, para que ela tecesse uma escada e fugisse com ele. A bruxa não suspeitou de nada e continuou visitando Rapunzel como sempre.

Mas então, um dia, a pobre garota fez uma observação infeliz. Quando ela estava puxando a bruxa para cima, suspirou: “Oh, mãe, como você está tão muito mais pesada do que…” Ela soltou um grito e congelou de horror, percebendo que quase havia revelado seu segredo.

A bruxa pegou uma tesoura com raiva e cortou a trança de Rapunzel, depois a deixou no meio da mata. O pobre príncipe desavisado gritou e subiu na trança, percebendo tarde demais que não era Rapunzel. Era a bruxa.

“Você não encontrará mais sua namorada aqui!”, ela gargalhou e soltou a trança. O pobre príncipe caiu do alto da torre até os arbustos de framboesa lá embaixo. Os espinhos afiados cortaram seus olhos e ele perdeu a visão.

Ele vagou cegamente, comendo o pouco que podia encontrar, procurando por sua Rapunzel.

Passou o outono e passou o inverno. O príncipe ainda caminhava cansado, sem parar, quando de repente ouviu um voz familiar à distância. A princípio, ele pensou que estava apenas sonhando. Que alguma mágica cruel estava pregando peças nele. Mas continuou empurrando entre os arbustos em direção àquela doce voz, até chegar ao casebre onde Rapunzel morava.

Rapunzel correu para cumprimentá-lo, suas lágrimas de alegria curando sua visão. Eles retornaram ao seu reino e viveram felizes para sempre.

E a bruxa das trevas? Quando ela jogou o príncipe e a trança da torre, tarde demais percebeu que não tinha outra maneira de descer dali. Acabou presa na torre, e você podia ouvir seus gritos terríveis vindos da janela por um longo, longo tempo.